Coluna: Onda de Criminalidade em Sabará

Por Flávia Cristina Reis de Paula Macedo Faria

Antes de começar a falar sobre o tema do texto, gostaria de me desenhar com palavras. Sou sabarense, nascida e criada aqui, morei em Belo Horizonte por um ano, e pensando em melhor qualidade de vida troquei a “cidade grande” pelo “interior”. Nem eu ou meu esposo nos arrependemos da escolha que fizemos. Sou também bacharel em Direito e Criminóloga (pro desespero da minha mãe e do meu marido), e agradeço a profissão que eu tenho aos meus pais, que sempre me incentivaram fazendo das tripas coração pra que eu “desse gente”.

Bom, voltando às vacas frias esse texto tem o intuito de falar um pouco, mas não esgotar o assunto: O agravamento da onda de criminalidade que assola o Brasil, e de forma alarmante Sabará, uma cidade que sempre foi tida como pacata.

Sempre ouvi as estórias do meu pai de que “no meu tempo se podia sair a noite e o único perigo iminente era encontrar com algum desafeto pelo caminho.” E nessas horas com a minha  imaginação  de  criança,  via  claramente  a  cena  do  Popeye e Brutos.  Lembro-me claramente de estudar na Biblioteca Pública e poder voltar sem ter medo de que algo de cruel acontecesse, de brincar na rua sem medo.

Retirando o romantismo do cerne da questão, observamos que, estamos vivenciando uma época  na  qual  a  criminalidade  nos  ronda  a  cada  esquina.  Quantos  de  nós  tem  a  plena segurança de andar pelas ruas sem ter medo?  Viramos reféns de nossas casas, e mesmo no seio do nosso lar, não temos a certeza de que vamos dormir, e acordar sem criminosos a nossa espreita.

Basta um passeio pela cidade ou uma conversa casual com seu vizinho, e para se saber   de roubos, furtos, estupros, tráfico de drogas dentre outros crimes gravíssimos aqui em Sabará, e não falamos de fatos ocasionais, falamos de coisas cotidianas.

Tenho  que  dizer  que  ninguém  nasce  criminoso,  são  vários  fatores  que  levam  alguém  a delinquir. A bondade e a maldade estão dentro de nós, cada um escolhe qual caminho a seguir, cada um escolhe a qual lado “alimentar”.

Estudiosos dizem que a situação do agravamento da onda de criminalidade se dá, em sua grande  maioria,  por  jovens  –  entendendo  assim  as  crianças  e  adolescentes  –  que  muito podiam dar para o desenvolvimento de nossa cidade, ao invés de enveredarem por tais caminhos sinuosos.

Observamos que em sua maioria os atos criminosos  de que temos notícias aqui em Sabará, vem sendo praticados por esta parcela importantíssima da sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente, o popular ECA cujo objetivo maior é proteger o vulnerável, garantindo a estes o Direito fundamental à liberdade, respeito e dignidade, transformou-se, muitas vezes, em um verdadeiro escudo para aqueles que querem delinquir.

O descaminho dessa grande massa de recursos humanos contribui negativamente para atrasar os esforços de desenvolvimento de um país, de um Estado, de uma cidade. É claro que esta onda de crimes que assola o país, que assola Sabará, não tem uma causa única, um único culpado,  um  único  vilão.  São  vários  fatores  que  convergem  para  que  esta  “tempestade perfeita” aconteça.

Hoje os valores estão completamente deturpados. Lembro-me, ou melhor, isso acontece até hoje em nossa família, (leia-se filhos, genro, noras, netos), que só com olhar de minha mãe e o levantar de sobrancelhas do meu pai, já sabemos o que fazer, o porquê fazer, e o que estamos fazendo de errado, e olha que sou a filha mais nova (acabei de fazer 34 anos). Mas sabe de uma coisa que não vou esquecer nunca? É do respeito que me foi ensinado, desde os mais tenros anos de idade, respeito aos mais velhos, às coisas alheias, às nossas coisas conquistadas com tanto custo pelos nossos pais. Nosso medo era ver nos olhares deles a decepção. Preferíamos ser castigados a decepcioná-los. Hoje em dia isso é difícil de ver, e muito me entristece, a falta de vergonha dos jovens em decepcionar os pais.

Sabem, esta era de “bang bang” que estamos vivenciando não pode ser dissociada de políticas equivocadas,  de  negligenciamento  dos  direitos  básicos  previstos  em  nossa  Constituição Federal, que hoje são distorcidos para favorecimento deste ou daquele partido político.  Mas também não podemos tirar o nosso “corpo fora”, e colocar a culpa exclusivamente neles. Cada um de nós, todos nós, temos nossa parcela de culpa.

Essa onda de crime que devasta o nosso país não começou hoje. Começou quando a educação foi tratada com negligência pela primeira vez, e assim, ficando o emprego e o acesso ao mercado  de  trabalho  cada  vez  mais  escassos  e  especializados.  A  juventude,  pelo  menos aqueles que não têm estrutura, que não tem o caráter arraigado, que não tem a verdadeira fibra moral, se desespera e abraça o crime, sem sequer olhar para as consequências nefastas daí advindas.

Por esta razão, chama atenção para a premente necessidade de mudanças efetivas em nossas leis  penais,  não  simplesmente  mitigando-as  ou  recrudescendo-as,  mas  trazendo  em  seu escopo real aplicabilidade e efetividade.

Não vou me alongar mais, que esta “prosa” vai longe…   Em nosso próximo encontro quem sabe retomaremos este assunto, ou talvez falemos sobre um tema mais leve?

flavia

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