As obras dos viajantes, permitem-nos pensar vários aspectos da vida em Sabará. Essa pequena citação, de BURMEITER (1880), possibilita-nos pensar como era o espaço dessa cidade, além de se referirem a organização, limpeza e educação existente na cidade . Seus relatos elogiosos diziam respeito basicamente as de famílias abastadas do lugar.
Sabará causa, em geral, uma boa impressão. Mais limpa e risonha que Ouro Preto, as casas apresentam-se em melhor estado, sendo mesmo de aspecto elegante, tanto por fora como por dentro
SAINT HILAIRE , um desses viajantes fala que
Durante minha estada em Sabará, vi os principais moradores da vila; achei-os de uma polidez perfeita, modos distintos, boa aparência; mas pareceram-me menos afetuosos que os do de Tijuco. Não é raro encontrar-se em Sabará homens que receberam instrução e que sabem o latim. (…)O professor de Sabará era um homem bem educado, formado pela Universidade de Coimbra. Além do seu curso de latim, lecionava filosofia racional e moral, no que era pago pelos alunos, ele teve a bondade de ler para mim sua aula inicial.
A documentação que temos analisado, sabemos que Sabará foi uma cidade que teve algum tipo de espaço em que se tinha uma educação mais institucionalizada.
Questões como, exames, cobranças da sociedade, do governo, dos colegas permearam toda a vida daqueles que desejavam exercer essa função. Assim como no restante da província mineira, a medida que a rede escolar se expandia, professores e professoras ganhavam maior visibilidade na cidade e em todos os espaços por onde circulavam. Situações de reclamação quanto a postura e conduta dos docentes são observadas ao longo do período estudado, chegando a ter reunião do corpo docente para discutir denúncia de desvio de conduta. A rigidez na observação dos casos parece ser uma forma de coibir que outros docentes tomassem a mesma postura dos tidos como transgressores, como o que ocorreu com o professor de Francês, Geografia e História da Escola Normal.
(…) O Professor de Francês, Geografia, e Historia da cidade de Sabará deixa o seu emprego sem previa licença do governo, vem a Cap.ª de sues negócios, e como tinha de demorar-se simplesmente sem provas, q esta[ ] atacado de moléstia do coração, e pede 20 dias de licença para se tratar. Foi V. Ex. e cia Devido ordenar q eu informe sobre a pertença constando da inclusa petição. Devo falar a V. Ex. Com toda franqueza a este respeito. São repetidos os clamores contra o estado da Instrução Publica, cumpre q o Govº cure o mal com os meios q as Leis tem posto a sua disposição. A demissão é remédio pronto e heroico, q no caso vertente é de absoluta necessidade.O Professor que procede como o peticionário não só falta ao cumprimento dos seus deveres como zomba do respeito devido a autoridade a cuja escola de certo q não pertence desamparando o seu emprego vindo desrespeitar o Exmo Gov.º em sua própria face.[SP 434 F.47.]
Outro caso mais veemente foi do professor de Filosofia e Retórica, que teve uma reclamação feita pelo Vice Diretor da Instrução Pública Antonio José Ribeiro Behering, quando do envio ao Presidente da Província Ricardo de Sá Rego, ofício, em tom exaltado, quanto a ineficiência desse professor na condução de suas aulas e a do professor de Desenho e Geometria, da Escola Normal, que foi acusado de difamar os professores e alunas da instituição nas ruas da cidade. Diante da denúncia, o corpo docente da escola se reuniu para discutir o caso. Após ouvirem o colega, decidiram que o professor não havia levantado injúrias contra os docentes e alunas da escola.
A movimentação dos docentes de Sabará era intensa, constantemente faziam pedidos das mais diversas ordens ao governo, tais como: aumento do ordenado, direito à aposentadoria, verba para pagamento do aluguel de casas onde ocorriam e ocorreriam as aulas e reintegração do cargo.
Os professores que lecionavam em Sabará, desfrutavam de certo prestígio. Sabará por ser cabeça da Comarca do Rio das Velhas, exercia influência perante as demais cidades e vilas do Círculo Literário do qual era sede.
Em julho de 1853 foi criado o colégio Emulação Sabarense por Anastácio Sinfrônio de Abreu, Dentre suas matérias constavam o ensino de Primeiras Letras, Latim, Inglês, Matemática, Francês e Gramática Nacional, sendo que as cadeiras públicas de Latinidade e Poética, Francês, Geografia e História foram incorporadas ao colégio em 1854. Esse colégio passou por sérias dificuldades para se manter, tanto no que diz respeito a questão do espaço físico, quanto da organização das suas aulas e do corpo docente. No entanto, em alguns ofícios os resultados obtidos nos exames de seus alunos era muito elogiado pelo governo, segundo a Agência Geral do Ensino Público, estes achavam-se adiantados
No ando de 1856 foi criado o Colégio feminino de Sabará foi criado pela Sociedade de Benificência das Senhoras Sabarenses recebendo um auxílio do governo da Província de 500$000 réis, devendo para isso receber alunas pobres.
Essa instituição foi outro estabelecimento escolar importante para a cidade, nele ocorria diversas atividades relacionadas a dinâmica da administração da educação da comarca. Seus professores desempenhavam diversas funções fosse na escola ocupando a secretaria ou fosse na realização de outras atividades fora do exercício do magistério . Um dos seus grandes docentes foi o professor Septimo de Paula Rocha , filho do professor Francisco de Paula Rocha, que atuou como professor, secretário e diretor desse estabelecimento, vindo a exercer outros cargos importantes na cidade posteriormente.
Outro estabelecimento escolar de importância que identificamos até o momento é a Escola Normal de Sabará, ela foi instalada em 2 de Outubro de 1882, tinha como cadeiras as matérias de ensino: Português, Aritmética e metrologia, Música, Pedagogia, Francês, Geografia e História e Primeiras Letras. Essa escola constituiu-se num importante espaço deformação de professores(as). Seu corpo docente era composto pela maioria dos integrantes do Externato da cidade de Sabará, com quem tinham uma intensa relação, além de outros funcionários que também atendiam aos dois estabelecimentos educacionais. Pela documentação que tivemos acesso, verificamos que essa escola constitui-se num importante espaço para o desenvolvimento de pesquisas , seja por referência a qualidade do seu trabalho e corpo docente, como também da importância para a cidade e localidades próximas.
Os dados encontrados até o momento da época demonstram uma crescente preocupação dos sabarenses com a educação. Verificava-se um aumento da rede escolar na segunda metade do século XIX. Com isso, tanto o corpo docente quanto os(as) alunos, ganhavam maior visibilidade na cidade, ao mesmo tempo que suas condutas eram marcadas por diversas formas de controle (exames, vigilância da sociedade, diretor do Círculo e das instituições escolares).
Educação em Sabara decada de 40
por
Marileide Lopes dos Santos
Luciano Mendes de Faria Filho
Universidade Federal de Minas Gerais
BURMEITER, Hermann. Viagem ao Brasil: através das Províncias do Rio de Janeiro e Minas
Gerais visando especialmente a história natural dos distritos auri-diamantíferos. Belo
Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Ed. da Universidade de São Paulo, 1980.p.249.
CHAVES, Lenir Ferreira. História da educação em Sabará (1837-1973). Belo Horizonte:
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GOUVÊA, Maria Cristina. Mestre: profissão professor(a) – processo de profissionalização
docente na província mineira no período imperial. Revista Brasileira de História da Educação.
Campinas- SP, julho/dezembro 2001 n.º2, p.52.
MACHADO, Maria de Lourdes Guerra. Nas ruas de Sabará. Sabará: CMC, 1999.
MOURÃO, Paulo Krüger Correa. O Ensino em Minas Gerais no tempo do Império. Belo
Horizonte: Faculdade de Direito do CRPE/UFMG, 1959.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos Diamante e litoral do Brasil. Belo
Horizonte/São Paulo: Itatiaia /Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. p.75.
FONTES/DOCUMENTOS COLETADOS NO APM – Arquivo Público Mineiro
Câmara Municipal de Sabará. Ofício enviado a esta câmara pelo Palácio da Presidência da
Província de Minas Gerais a cerca da criação do Externato da cidade em 31/05/1867.
Câmara Municipal de Sabará. Correspondências caixa 8, 1867.
Falas e Relatórios de Presidentes de Província de Minas Gerais do período estudo.
Instrução Pública. Livro 4. Registro de provimentos dos professores públicos, entre o período
de 1834 a 1848. In: Arquivo Público Mineiro.
Instrução Pública. Livro 6. Matrícula de professores de instrução primária e secundária, entre
o período de 1822 e 1853. In: Arquivo Público Mineiro.
Instrução Pública. Livro 10. Matrícula de professores de instrução secundária, entre o período
de 1835 e 1890. In: Arquivo Público Mineiro.
Instrução Pública
Correspondência Recebida Escolas oficiais e Particulares. caixa 25.
Instrução Pública
Tabelas, mapas e listas. caixa 01 pacotilha 38, 1832.
Instrução Pública
Tabelas, mapas e listas. caixas 01,02,05,06.
Instrução Pública. Livro 142. Atas dos exames do Externato de Sabará.
Instrução Pública. Livro 143. Termo de juramento de empregados na Instrução Publica sob a
administração do Externato, 1868 a 1887.
Livro da Lei Mineira, Regulamento 56 à Lei 1267. Ouro Preto, Palácio da Presidência,
Typografia Provincial, 1861 de 1867.
Seção Provincial. Livros, 232,234,267,304,360,434,449,464,497,521,524,630,1212.
PP 42 caixa 02 pacotilha14.