A pequena capela na cidade de Sabará é considerada uma das mais magníficas representações do estilo barroco. Seu interior chama a atenção pela riqueza de detalhes e pela influência chinesa na decoração, característica da primeira fase do Barroco.
História
Os devotos fiéis de Nossa Senhora da Expectação do Parto iniciaram a construção de uma capela em sua homenagem no ano de 1717, no arraial de Tapanhuacanga. O terreno foi doado pelo Senado da Câmara de Sabará, conforme registrado em um documento datado de 1º de janeiro de 1718. Existem indícios de que, possivelmente, já existia no local uma capela muito simples.
O capitão-mor Lucas Ribeiro de Almeida assumiu a construção da estrutura da igreja e contratou Manuel da Mota Torres como ajudante em janeiro de 1719. Com base em um ex-voto que está exposto hoje no nártex da igreja, relatando uma graça alcançada pelo próprio capitão-mor e datado de 1720, conclui-se que nessa época a parte arquitetônica já estava concluída. Os trabalhos decorativos teriam sido iniciados após a conclusão da estrutura.
O culto a Nossa Senhora da Expectação, também conhecida por outros nomes, como Nossa Senhora da Espera, da Esperança, do Parto ou do Ó, teve início na Espanha no ano de 656, durante o Concílio de Toledo. Santo Idelfonso foi o grande incentivador, ordenando que a festa fosse celebrada no dia 18 de dezembro, sob o título de “Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria”. A devoção se espalhou por toda a Espanha e Portugal, tornando-se muito popular. Em Minas Gerais, o culto a Nossa Senhora do Ó começou em Sabará.
A iconografia original de Nossa Senhora da Expectação do Parto a retratava grávida. No entanto, durante a Idade Média, essa representação foi proibida pela Igreja. A imagem de Nossa Senhora do Ó em Sabará apresenta os braços cruzados sobre o peito, e o ventre não é retratado como inchado, conforme observou Sylvio de Vasconcellos. Embora a invocação tenha surgido em Sabará tardiamente, no século 18, a representação visual já era menos realista, de acordo com as preconizações da Igreja (Caderno de Pesquisa – Iconografia – IEPHA).
A arquitetura e a decoração
O padrão arquitetônico original da capela passou por várias modificações ao longo do tempo. No final do século 18, seguindo a tendência das construções religiosas da época, sua fachada foi reconstruída com chanframento e a adição de uma torre central, que abriga um sino de 1782.
Como não existem documentos sobre os entalhadores e pintores que trabalharam na igreja, existem várias teorias para explicar sua decoração surpreendente. Rodrigo de Melo Franco de Andrade, primeiro diretor do Patrimônio Histórico, acreditava que o pintor Jacinto Ribeiro era o autor dos elementos chineses que se espalham pelo arco cruzeiro, com base em um documento de 1721 que mencionava que Jacinto era natural da Índia e residia na Capitania das Minas desde 1711.
Há também a suposição de que artesãos provenientes das possessões portuguesas do Oriente tenham chegado a Minas durante o período de efervescência das descobertas dessas terras. Os elementos decorativos exóticos orientais tornaram-se moda em várias regiões da Europa e hoje são chamados de “chinecises”. Obras de arte, tecidos e porcelanas eram levados a Portugal por meio do intenso comércio. Assim, não era difícil encontrar artistas portugueses que dominassem a técnica e os motivos orientalizantes.
A nave da Capela Nossa Senhora do Ó é decorada com 14 painéis ricamente emoldurados, retratando várias cenas da vida de Cristo, especialmente relacionadas ao seu nascimento e infância. Vale a pena observar atentamente essas cenas, pois todas as figuras possuem cativantes olhos oblíquos. No primeiro painel à esquerda, São José veste trajes do século 18, com botas, capa e chapéu; ao fundo, uma cidade medieval cercada por muralhas.
O teto de caixotão é dividido em 15 painéis emoldurados, com pinturas relacionadas aos símbolos marianos presentes no Eclesiastes, no Apocalipse e na Ladainha de Nossa Senhora.
A capela passou por reformas entre 1890 e 1900. Nesse período, dois painéis parietais foram extremamente danificados devido a duas aberturas feitas com o objetivo de “melhorar” a iluminação da igreja. Durante os trabalhos de restauração, os painéis danificados foram “recuperados”, restabelecendo a estética da nave. A nave conta apenas com um púlpito, cuja bacia é trabalhada em madeira.
O arco cruzeiro é o ponto alto da decoração. Os painéis octogonais em um fundo azul escuro apresentam delicadas pinturas em ouro, mostrando pagodes chineses, aves do paraíso e chineses. Essas pinturas são responsáveis pelo apelido de “capela chinesa” dado à igreja. O arco também possui elementos decorativos, como voltas e contravoltas, folhagens e pelicanos eucarísticos.
A capela-mor é magnífica, e seu retábulo português autêntico é de excelente qualidade. O teto de caixotão está dividido em seis painéis que retratam cenas da vida de Maria. Nos painéis parietais, estão representadas cenas da Sagrada Família; no trono, encontra-se Nossa Senhora do Ó.
Ex-voto
“Mercê que Nossa Senhora do Ó fez ao Capitão-Mor Lucas Ribeiro, regente desta Vila de Nossa Senhora da Conceição, o qual, vindo de fazer a festa à adorada santa, foi acometido temerariamente por quatro soldados dos dragões, e depois todos os outros da companhia com o desejo de matá-lo. Mas nem com espadas nem com vários tiros que dispararam conseguiram atingir seu intento, pois o amor de Deus deu forças ao seu devoto para se defender de tudo, sem sofrer o menor perigo, nem ele nem os escravos que o acompanhavam. Em agradecimento, mandou fazer esta memória que foi oferecida em 29 de dezembro de 1720.”
A Capela de Nossa Senhora do Ó é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e está registrada no Livro de Belas Artes, datado de 13 de junho de 1938.