Logo após a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, eles iniciaram tímidas expedições exploratórias pelo território. Já em 1503, Américo Vespúcio organizou a primeira expedição conhecida, partindo da cidade de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro. A partir desse ponto, diversas outras expedições se seguiram, aumentando em frequência ao longo do tempo. Em relação a Sabará, não há uma data precisa sobre quando os primeiros exploradores chegaram à região. No entanto, segundo o historiador Zoroastro Viana Passos, essa chegada teria ocorrido por volta de 1550 ou até mesmo antes.
No entanto, a narrativa mais comumente mencionada é a exploração da bandeira liderada por Fernão Dias Paes Leme e, posteriormente, pelo seu genro Borba Gato, considerado o fundador de Sabará.
Em 1665, surge o apelo de Dom Afonso VI para que Fernão Dias partisse em busca de metais e pedras preciosas, e em 1672, recebe a missiva de Dom Pedro II, incumbindo-o de encontrar tais minas. Fernão Dias recebe a nomeação oficial e, além das honras, a Corte promete ajuda financeira para viabilizar sua expedição. No entanto, essa oferta jamais foi cumprida…
Durante três anos, Fernão se dedica sozinho ao preparo de sua bandeira. Reúne brancos, índios e mamelucos, totalizando 674 homens dispostos a dar suas vidas pelo sonho. Em julho de 1674, partem em direção às cabeceiras do Rio das Velhas, atravessando a Serra da Mantiqueira na região de Atibaia e Camanducaia. Desbravam matas, lidam com nativos, enfrentam a ira das tempestades e os desafios dos dias quentes de verão.
Matias Cardoso e Bartolomeu da Cunha Gago já estão em seu caminho com suas tropas. Na trajetória que seguem, os bandeirantes deixam marcas definitivas: estabelecem entrepostos comerciais, atraem povoações de outras regiões, dão vida a vilarejos distantes.
Na Serra de Sabarabuçu, Fernão exige esforço redobrado de seus homens. No início do século, Marcos Azevedo afirmara ter encontrado esmeraldas naquela região, mas morreu na prisão, recusando-se a revelar a rota para a mina. Agora, confiam a Fernão a missão de descobri-la. Ele está determinado a não decepcionar. Sente que sua obstinação assusta e, por vezes, até causa horror. Ele se assume como tal, jamais se desviará de suas metas.
A terra é ingrata, não oferece pistas sobre o tesouro. Sob a liderança de Fernão, os bandeirantes persistem. Adentram o interior do sertão, vasculham cada pedaço de terra que percorrem.
Porém, seus homens ficam exaustos. A alimentação precária, corpos enfraquecidos e mentes contaminadas pela ideia do fracasso. Muitos não resistem. Ficam para trás, vítimas de epidemias ou ataques de nativos, pelas águas dos rios e trilhas das serras. Também falta munição. A jornada se torna cada vez mais difícil. Fernão insiste, exorciza o fantasma da renúncia que paira sobre a tropa. Despreza a covardia, anseia pela fortuna. Ele vocifera para que os fracos pelo menos confiem no instinto dos fortes.
De forma sorrateira, alertado por uma índia, Fernão Dias dirige-se ao local onde os conspiradores se encontram. Trêmulo, seus olhos parecem querer saltar diante do que vê: amigos próximos defendem sua morte como o único meio de encerrar o que chamam de busca insana.
Na manhã seguinte, ele dá ordem de prisão aos traidores. Para o líder da conspiração, reserva o castigo capital: a forca. O enforcado é seu filho mameluco, José Dias Pais de Fernão.
Em 1681, uma comoção coletiva se espalha. Pedras, uma jazida delas, brilhando em verde reluzente! É a recompensa pelos sete anos de incursões pelo sertão.
Doente, com toda a barba branca cobrindo seu rosto marcado pelos 73 anos, Fernão já não mantém sua rigidez habitual. Ele se aproxima de seu tesouro, tocando-o. Ergue um punhado de pedras:
Em seguida, ele confia a notícia a seu sobrinho, Francisco Ribeiro, para levá-la até São Paulo:
Ao retornar ao arraial do Sumidouro, Fernão sente-se cansado e pede para ficar sozinho. Ele permanece imerso em seus pensamentos por algumas horas, até que é surpreendido pelo suor em sua testa às margens do rio das Velhas. Ele volta a segurar suas pedras e antecipa:
Em meio a uma chuva violenta, a canoa que transporta o corpo embalsamado do bandeirante vira ao atravessar o rio das Velhas, levando consigo. Homens mergulham incessantemente, dia e noite, em busca de seu corpo, mas em vão.
Chega ao arraial o comissário das minas de Dom Pedro II, intensificando a disputa pelas jazidas. Rodrigo de Castel Blanco, especialista em pedras e metais preciosos, assume o comando da bandeira e recusa-se a entregar a fortuna à família de Fernão, sem sequer avaliar o valor da descoberta. A esposa, cinco filhas solteiras e cinco sobrinhas órfãs são deixadas em total miséria. Todos os bens haviam sido penhorados para dar continuidade à bandeira.
Borba Gato enfrenta a ganância do fidalgo espanhol. No confronto, o genro de Fernão não hesita: atira o representante da Corte do penhasco abaixo.
Fugindo das autoridades portuguesas, ele segue os rastros deixados por seu sogro e continua sua missão. Borba Gato teria explorado as minas do Rio das Velhas, situadas no arraial de Santo Antônio da Mouraria, atualmente conhecido como Arraial Velho. Embora contestado como o descobridor das terras do Sabarabuçu, de limites imprecisos, não lhe é negada a glória como fundador de Sabará.
Borba Gato e seus homens fundaram diversos arraiais, sendo apenas dois deles conhecidos com certeza: o atual Santana do Paraopeba e o Arraial do Sumidouro, nas margens do rio das Velhas. No entanto, especula-se, com base em um manuscrito de Pedro Dias Pais Leme, marquês de Quixeramobim e neto de Borba Gato, que essa expedição também estabeleceu outros postos ou celeiros que dariam origem aos arraiais de Vituruna ou Ibituruna (“serra negra”), Roça Grande, Tucambira ou Itacambira, Itamarandiba, Esmeraldas, Mata das Pedrarias e Serra Fria. Essas localidades serviram como pontos de parada e posteriormente se tornaram povoados nas expedições seguintes.
A data exata da fundação do arraial não é registrada com precisão pela História. No entanto, considerando que Manoel de Borba Gato foi seu fundador, estima-se que tenha ocorrido entre 1672 e 1678. A escritora Lúcia Machado de Almeida, em seu trabalho “Passeio a Sabará”, indica o ano de 1674 para esse acontecimento. O que se sabe é que o arraial se desenvolveu e progrediu rapidamente, e em 17 de julho de 1711, foi elevado à categoria de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabuçu.
Por meio de uma Carta Régia de 1714, quando a Capitania de Minas foi dividida em quatro grandes comarcas, a Vila Real de Sabarabuçu foi designada como sede da comarca de Vila Real de Sabará, abrangendo o termo de Vila Nova da Rainha, hoje conhecida como Caeté. A vila cresceu e atraiu homens ambiciosos, aventureiros e poderosos. A produção de ouro era imensa, tornando Sabará um dos principais centros de mineração da província, enviando grandes quantidades de ouro para a Coroa portuguesa.
Casa da Intendência ou Casa da Fundição atualmente Museu do Ouro de Sabará
“Tão intensa fez instalar em Sabará a Casa da Intendência ou Casa da Fundição, para cobrança do quinto”.
Era o apogeu. Era a opulência. Eram os barões, militares e senhores de minas, mandando educar seus filhos na Europa; vivendo em mansões, verdadeiros palácios da época, com móveis ao estilo europeu, com liteiras e pagens. Na cidade havia um dos maiores contigentes de escravos de então. Testemunhas vivas dessa época de fausto e riqueza são as centenárias obras arquitetônicas de Sabará.
“Foi sempre tão marcante a importância e o prestígio de Sabará, que D. Pedro I, a 24 de fevereiro de 1823, nos primórdios do Império, concedia-lhe o nobilitante título de “Fidelíssima”.
Casa da Intendência ou Casa da Fundição, atualmente Museu do Ouro de Sabará
“A Casa da Intendência ou Casa da Fundição foi estabelecida em Sabará com grande intensidade, com o propósito de cobrar o quinto, imposto sobre a extração de ouro.”
Era uma época de apogeu, de opulência. Barões, militares e senhores das minas mandavam educar seus filhos na Europa, vivendo em mansões que eram verdadeiros palácios da época, com mobiliário no estilo europeu, utilizando liteiras e servidos por pajens. Sabará abrigava um dos maiores contingentes de escravos daquela época. As obras arquitetônicas centenárias de Sabará são testemunhas vivas desse período de luxo e riqueza.
“Sabará sempre foi tão importante e prestigiosa que, nos primórdios do Império, Dom Pedro I concedeu-lhe o nobre título de ‘Fidelíssima’ em 24 de fevereiro de 1823.”
Sabará viveu dias de esplendor, honra e riqueza. No entanto, também passou por dias de decadência e retrocesso, alternando entre momentos alegres e sombrios.
Durante muitos anos, o nome da cidade foi Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabussu, ou simplesmente Vila Real. A origem da palavra Sabará tem duas versões: de acordo com Theodoro Sampaio, “Sabará” é uma forma contraída de “Tabará”, que por sua vez se originou de “Tabaraboçú”, como pode ser visto em documentos antigos. “Tabará” é uma forma abreviada de “Itaberaba” ou “Ita-beraba”, que significa “pedra reluzente” ou “cristal”. Já “Sabaraboçu”, antiga forma “Tabaraboçu”, é uma corrupção de “Ita-beraba-uçu”, que significa “pedra reluzente grande” e também pode ser entendida como “serra resplandecente”. A outra versão, de acordo com a “História Antiga de Minas Gerais” de Zoroastro Passos, baseia-se no fato de que os indígenas, fingindo que os rios maiores eram pais dos menores ou afluentes, chamavam o rio das Velhas de “cuba” (pai) na parte de baixo e “çubara” (pai partido) na parte de cima. Assim, eles chamavam o braço maior de “Çubará-boçú” (pai partido grande) e o menor de “Çubará-mirim” (pai partido pequeno). Posteriormente, o primeiro rio ficou conhecido como rio das Velhas (devido a duas velhas que se banhavam nele) e o segundo simplesmente como Sabará.